2009-09-05

Eduardo Galeano

Como eu odeio livros de poesia, é impressionante a capacidade que o autor tem de me deixar entediada e fazer com que eu demore quase uma semana para ler um livro de 400 páginas, é ridiculo, me sinto fracassada.
Ando com uma compulsão estranha de roer as unhas novamente, fazia uns seis anos que eu não caia nesse vicio, acho que eu estou levemente nervosa. Não, não estressada, é nervosa mesmo ou então o estresse que eu sempre tive está virando algum tipo de doença agora e eu não me surpreenderia se isso acontecesse. Hoje é a minha folga e eu estou planejando fazer o que? Nada, acho que vou ligar pro Heyner no máximo pra dar uma volta, dormir lá, fazer uma janta e ouvir CDs maravilhosos que ele tem, ele só tem todos os CDs e LPs de novelas brasileiras, só isso.
Eu li um livro esses dias chamado "O Livro dos Abraços" e não tem nada a ver com abraços, são crônicas muito legais que me fizeram pensar bastante como todo bom livro de crônicas. Eu sei que eu não deveria fazer isso, mas eu vou fazer, ready?

Teologia/3

Errata: onde o Antigo Testamento diz o que diz, deve dizer aquilo que provavelmente seu principal protagonista me confessou:
Pena que Adão fosse tão burro. Pena que Eva fosse tão surda. E pena que eu não soube me fazer entender.
Adão e Eva eram os primeiros seres humanos que nasciam da minha mão, reconheço que tinham certos defeitos de estrutura, contrução e acabamento. Eles não estavam preparados para escutar, nem para pensar. E eu... bem, eu talvez não estivesse preparado para falar. Antes de Adão e Eva, nunca tinha falado com ninguém. Eu tinha pronunciado pelas frases, como "Faça-se a luz", mas sempre na solidão. E foi assim que, naquela tarde, quando encontrei Adão e Eva na hora da brisa, não fui muito eloqüente. Não tinha prática.
A primeira coisa que senti foi assombro. Eles acabavam de roubar a fruta da árvore proibida, no centro do Paraíso. Adão tinha posto cara de general que acaba de entregar a espada e Eva olhava para o chão, como se contasse formigas. Mas os dois estavam incrivelmente jovens e belos e radiantes. Me surpreenderam. Eu os tinha feito; mas não sabia que o barro podia ser tão luminoso.
Depois, reconheço, senti inveja. Como ninguém pode me dar ordens, ignoro a dignidade da desobediência.
Tão pouco posso conhecer a ousadia do amor, que exige dois. Em homenagem ao princípio da autoridade, contive a vontade de cumprimentá-los por terem-se feitos subitamente sábios em paixões humanas.
Então, vieram os equívocos. Eles entenderam queda onde falei de vôo. Acharam que um pecado merece castigo se for original. Eu disse que quem desama peca: entenderam que quem ama peca. Onde anunciei pradarias em festas, entenderam vale de lágrimas. Eu disse que a dor era o sal que dava gosto a aventura humana: entenderam que eu estava condenando, ao outorgar-lhes a glória de serem mortais e loucos. Entenderam tudo ao contrário. E acreditaram.
Ultimamente ando com problemas de insonia. Há alguns milênios custo a dormir. Eu gosto de dormir, gosto muito, porque quando durmo, sonho. Então me transformo em amante ou amanta, me queimo no fogo fugaz dos amores de passagem, sou palhaço, pescador de alto-mar ou cigana adivinhadora da sorte; da árvore proibida como até as folhas e bebo e danço até rodar pelo chão...
Quando acordo, estou sozinho. Não tenho com quem brincar, porque os anjos me levam tão a sério, não tenho a quem desejar. Estou condenado a me desejar. De estrela em estrela ando vagando, aborrecendo-me com o universo vazio. Sinto-me muito cansado, me sinto muito sozinho. Eu estou sozinho, eu sou sozinho, sozinho pelo resto da eternidade.

- Eduardo Galeano

1 comentários:

me disse...

curti demais isso tudo. mesmo que tenha me deixado um pouco depressiva, principalmente pelo fato do broto não estar aqui perto, e pela saudade de pessoas e hábitos que não cultivo mais...
mas enfim.
digo e repito agosto e setembro tem sido uma época meio depressiva para todos nós.
beijones beeeeul
saudades do tamanho do infinito!
se cuide menina dos cachos dourados :D
ps: amo livros de poesia. xD

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